segunda-feira, 30 de maio de 2016
quarta-feira, 13 de maio de 2015
A máscara
Eis que a balaclava toma o
poeta de assalto,
mas não lhe rouba nada senão o
ocioso tempo.
A máscara mira em silêncio no vácuo
do ex-espelho –
o antirreflexo do que o poeta procura
ver.
O olhar, obtuso e vazio,
ferido pelo desfile enfadonho
dos dias,
pelo desleixe das horas,
pelas deslembranças.
Em vão o poeta busca oráculos,
uma inspiração:
a boca entreaberta não diz
nada,
apenas um sopro inerte,
um sussurro suspenso sem
vogais
ou significação.
A boca tampouco testa verdades:
ainda que a mão do poeta ali
coubesse,
por mais fiel a suas traições,
sairia ilesa para compor outras
vaidades
e ficções.
A sombra vã tenta dar forma ao
rosto,
torná-lo familiar, talvez sagrado,
mas somente escorre, como as
queimaduras do Sudário,
pelas texturas do tecido
antigo.
A pele rugosa, um dia bela, lustroaltiva,
agora, pálida, descarnada,
manchada pelas cicatrizes
do tempo servil e sem afeto.
O poeta deseja sondar
mistérios,
sinais de plenitude;
a máscara esconde um homem
oco.
O poeta anseia por palavras,
metáforas, alegorias;
a máscara não faz perguntas
nem tem respostas:
a máscara inexprime.A máscara: Nada.
terça-feira, 31 de março de 2015
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
corda bamba
balançam ao vento
na corda bamba
entre corpos de garotos
e pesadelos de homens
a visão inusitada
é claro sinal de alerta:
quem anda nesta corda bamba
cai somente uma vez
os calçados pendurados
como despojos de guerra
são gritos mudos das sombras
de quem não mais será jovem
a visão inusitada
é claro sinal de alerta:
quem anda nesta corda bamba
cai somente uma vez
os calçados pendurados
como despojos de guerra
são gritos mudos das sombras
de quem não mais será jovem
agora os corpos crivados
de balas
numa várzea de terra
os sonhos descalços
jogando bola
numa várzea de nuvens
quarta-feira, 10 de julho de 2013
domingo, 7 de abril de 2013
Chocolate
O assalto veio rápido. Sozinho na parada do
ônibus, sem jantar, tirou um chocolate de uma caixa e começou a comer. Mal teve
tempo de ver o sujeito aproximando-se do lado:
- Fica frio e passa a grana, senão eu te
queimo!
Com o susto, derrubou a caixa de chocolates. O
assaltante apanhou-a do chão e pegou alguns. Ele procurou a carteira, mão trêmula. O ladrão comeu um chocolate, depois outro, ar debochado. Enquanto ele pegava a
carteira, o semblante do outro mudou: seus olhos fecharam-se, quase desenhou-se
um sorriso na boca, suspirou. Deu meia-volta e foi embora sem dizer nada.
Ele escapou por um Bis.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
21/12/2012
Marco sempre foi
estressado. Irrita-se por qualquer coisa. O menor contratempo o deixa nervoso, contrariado, resmungando. Várias vezes já tive de acalmá-lo,
lembrar-lhe dos perigos de um infarto.
Estamos nos
aprontando para ir ao clube, treinar um pouco. A manhã nublada deu lugar a um
céu de chumbo, um ar sufocante. De repente, clarões e estrondos. Olho pela janela da sala: uma
chuva de meteoritos cai sobre a cidade, bolas de fogo com caudas flamejantes atingem prédios, ruas e parques, desintegrando tudo em seu caminho. Já se pode sentir um vento carregado de enxofre e desolação.
Marco sai do
quarto, rosnando:
- Que saco! Não
acho a carteira do clube!
- Calma, meu
bem. Isso não é o fim do mundo...
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