Imagem da internet

Letras na Sopa

Eis que! Cá estamos eu, eu mesmo e outros eus, não bem aqui, mas assim de lado, de refúgio ou refluxo de ideias, por graça e força de muitos uns e zeros, na aparente essência de letras, acentos, pontuações e espaços num ensopado virtual.

Chego sem pedir licença nem permissão, apenas por ocasião de. E vou tentando navegar o rio de sons e imagens que corre dentro de mim, fluindo por entre tempos, brechas, sustos e sopros, numa espiral rumo a uma galáxia distante cujo centro está no meio do peito.

Obscuro? Não, apenas um arroubo poético, quase patético, para afinar o tom. Quem quiser ler, quiçá. Qui sait? Não prometo assiduidade, simpatia ou samba-no-pé. Apenas expressão de desejos literários: ler, ter, vários. A quem abrir esta página, um pedido: se gostar, comente e recomende; se não gostar, poetize.


Vicente Saldanha

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Anúncio em tempos de crise



Compro cabelo,
dentes, olhos,
suprarrenais.
Sem anestesia pago mais.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

A máscara


Eis que a balaclava toma o poeta de assalto,
mas não lhe rouba nada senão o ocioso tempo.
A máscara mira em silêncio no vácuo do ex-espelho –
o antirreflexo do que o poeta procura ver.

O olhar, obtuso e vazio,
ferido pelo desfile enfadonho dos dias,
pelo desleixe das horas,
pelas deslembranças.

Em vão o poeta busca oráculos, uma inspiração:
a boca entreaberta não diz nada,
apenas um sopro inerte,
um sussurro suspenso sem vogais
ou significação.

A boca tampouco testa verdades:
ainda que a mão do poeta ali coubesse,
por mais fiel a suas traições,
sairia ilesa para compor outras vaidades
e ficções.

A sombra vã tenta dar forma ao rosto,
torná-lo familiar, talvez sagrado,
mas somente escorre, como as queimaduras do Sudário,
pelas texturas do tecido antigo.

A pele rugosa, um dia bela, lustroaltiva,
agora, pálida, descarnada,
manchada pelas cicatrizes
do tempo servil e sem afeto.

O poeta deseja sondar mistérios,
sinais de plenitude;
a máscara esconde um homem oco.
O poeta anseia por palavras, metáforas, alegorias;
a máscara não faz perguntas nem tem respostas:
a máscara inexprime.
A máscara: Nada.

terça-feira, 31 de março de 2015

Papéis

- Manhê, tô pronto!
E lá vai a mãe encarar um papel pouco higiênico...

quarta-feira, 20 de novembro de 2013










na parede pichada
mensagem pública e cifrada
de palavras fixas e inquietas:
poesia concreta

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Troca-se

Troco um lugar
na plácida  Eternidade
pela eterna
intensa efemeridade
do meu lugar.

corda bamba


veja os tênis suspensos no cabo de eletricidade

balançam ao vento
na corda bamba
entre corpos de garotos
e pesadelos de homens

a visão inusitada
é claro sinal de alerta:
quem anda nesta corda bamba
cai somente uma vez

os calçados pendurados
como despojos de guerra
são gritos mudos das sombras
de quem não mais será jovem

agora os corpos crivados
de balas
numa várzea de terra

os sonhos descalços
jogando bola
numa várzea de nuvens

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Sci Fi

Tempo. Sem querer, pisou num portal do

(Inspirado num miniconto de Alan Moore)

domingo, 7 de abril de 2013

Chocolate


O assalto veio rápido. Sozinho na parada do ônibus, sem jantar, tirou um chocolate de uma caixa e começou a comer. Mal teve tempo de ver o sujeito aproximando-se do lado:

- Fica frio e passa a grana, senão eu te queimo!

Com o susto, derrubou a caixa de chocolates. O assaltante apanhou-a do chão e pegou alguns. Ele procurou a carteira, mão trêmula. O ladrão comeu um chocolate, depois outro, ar debochado. Enquanto ele pegava a carteira, o semblante do outro mudou: seus olhos fecharam-se, quase desenhou-se um sorriso na boca, suspirou. Deu meia-volta e foi embora sem dizer nada.

Ele escapou por um Bis.
Depois da chuva, o por do sol
inunda o morro:
favela banhada em ouro.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

21/12/2012


Marco sempre foi estressado. Irrita-se por qualquer coisa. O menor contratempo o deixa nervoso, contrariado, resmungando. Várias vezes já tive de acalmá-lo, lembrar-lhe dos perigos de um infarto.

Estamos nos aprontando para ir ao clube, treinar um pouco. A manhã nublada deu lugar a um céu de chumbo, um ar sufocante. De repente, clarões e estrondos. Olho pela janela da sala: uma chuva de meteoritos cai sobre a cidade, bolas de fogo com caudas flamejantes atingem prédios, ruas e parques, desintegrando tudo em seu caminho. Já se pode sentir um vento carregado de enxofre e desolação.

Marco sai do quarto, rosnando:

- Que saco! Não acho a carteira do clube!

- Calma, meu bem. Isso não é o fim do mundo...