Eis que a balaclava toma o
poeta de assalto,
mas não lhe rouba nada senão o
ocioso tempo.
A máscara mira em silêncio no vácuo
do ex-espelho –
o antirreflexo do que o poeta procura
ver.
O olhar, obtuso e vazio,
ferido pelo desfile enfadonho
dos dias,
pelo desleixe das horas,
pelas deslembranças.
Em vão o poeta busca oráculos,
uma inspiração:
a boca entreaberta não diz
nada,
apenas um sopro inerte,
um sussurro suspenso sem
vogais
ou significação.
A boca tampouco testa verdades:
ainda que a mão do poeta ali
coubesse,
por mais fiel a suas traições,
sairia ilesa para compor outras
vaidades
e ficções.
A sombra vã tenta dar forma ao
rosto,
torná-lo familiar, talvez sagrado,
mas somente escorre, como as
queimaduras do Sudário,
pelas texturas do tecido
antigo.
A pele rugosa, um dia bela, lustroaltiva,
agora, pálida, descarnada,
manchada pelas cicatrizes
do tempo servil e sem afeto.
O poeta deseja sondar
mistérios,
sinais de plenitude;
a máscara esconde um homem
oco.
O poeta anseia por palavras,
metáforas, alegorias;
a máscara não faz perguntas
nem tem respostas:
a máscara inexprime.A máscara: Nada.