Postado no altar
de um templo ancião,
um santo barroco,
de um templo ancião,
um santo barroco,
a face de barro oco,
amplia o sermão
de um homem-santo.
No drama do gesto,
no apelo do olhar,
o santo barroco
ecoa o berro
do homem que o usa
para apregoar.
Da boca entreaberta
da máscara santa
reverbera o sermão
do ardente orador,
que exorta os fiéis
a seguir o exemplo
dos santos no templo;
que exorta os fiéis
a seguir o exemplo
dos santos no templo;
e chama os crentes
a crer lá nas chamas
que forjam a fé
fundida na faina,
cozida em fornalha
– a forja da alma –
– a forja da alma –
a chamar salvação.
E fugir das chamas,
rubras labaredas,
das baixas paixões
que fazem cair
em vil tentação.
E quem mais atento
às palavras de fogo
do feroz pregador,
humilde oleiro
de olhos sem luz,
de um opaco azul,
cegados na infância
por chaga malsã,
a quem o destino,
fervor ou criação
cedeu como dom
dar forma às palavras
da fiel pregação.
O santo contrito,
o mártir sofrido,
a santa piedosa,
de mãos em oração,
Senhora milagreira,
o Anjo protetor,
o santo guerreiro
vencendo o dragão:
as mãos eloquentes
do cego artesão
dão vida às histórias
das gentes sagradas
que ouve assombrado
à porta do templo,
sentado no chão.
Com dedos febris,
velozes, certeiros,
o cego barreiro
dá forma ao desejo
de dar voz aos santos
de histórias tecidas
com fios de ilusão:
amolda no barro,
na fôrma das mãos,
e fixa no forno
figuras sagradas
que habitam o templo
e servem de exemplo
aos ouvidos fiéis.
E ao candente homem-santo
que conta as histórias,
forneia, oferece,
de novo e de novo,
as formas do oco
de um santo barroco.